sábado, 23 de novembro de 2013

Lançamento: doce de lira, poesia à mesa


Queridos leitores,

é com imensa alegria que anuncio o lançamento do meu livro
doce de lira, poesia à mesa.

Com 120 páginas e 78 poemas,
a obra foi prefaciada pela escritora, atriz e cantora Elisa Lucinda.

O lançamento será muito especial:
eu e vários artistas no palco do teatro Clara Nunes
para uma noite de bate-papo, poesia e música.

Aos que não puderem comparecer e se interessarem pela obra,
favor se utilizarem do e-mail:
contato@docedelira.com.br.


domingo, 10 de novembro de 2013

Salão de belezas


quase não passo Renda nas unhas,
esses dedos pálidos me parecem
excessivamente virginais.
acabo sempre por escolher entre os vermelhos,
aquele que, num semitom acima ou abaixo,
coerentemente mantenha os meus dedos
como pecados confessos.

enquanto observo a francesinha fresca
da senhora sentada na cadeira ao lado,
a manicure ainda em experiência
me conta em segredo
que está grávida
não-sabe-de-quantas-semanas
e que passa muito mal.
confidente, sou responsável pelo que escuto
e as unhas das minhas mãos
são, então, pintadas aos sussurros,
eu a explicar à moça com que especialista
ela precisaria consultar-se.

ao redor, os burburinhos abafados
pelos incontáveis secadores de cabelo,
mulheres a folhearem Caras
durante o esticar ou o descolorir de seus fios.
a cada página virada, um muxoxo:
como pode a celebridade estar em forma
um mês após o terceiro parto?
e logo alguém lhe dá um peteleco no braço:
olha só quem fala,
você, com esse corpinho, nem parece ser mãe...

durante as unhas dos pés,
descubro que a manicure grávida
já tem um filho de seis anos.
a mesma idade, talvez, da menina
que vejo autorizada pela mãe,
antes da terceira manha,
a sentar-se ao lavatório,
sobre duas almofadas,
os pezinhos suspensos,
para lavar os seus cabelos compridos
pela primeira vez em um salão.
a mãe hesitantemente define
o tonalizante na cartela de cores,
enquanto a filha se ruboriza em gracejos,
um jovem homem a ineditamente
massagear seus cabelos,
da nuca às pontas embaraçadas.

com cuidado, peço à atendente
que pegue em minha carteira
o valor para pagamento dos serviços.
e saio de mãos e pés ligeiramente recuados,
para preservar meu vermelho Nunca fui santa.



Escrito a partir do texto O salão,

domingo, 3 de novembro de 2013

Croqui


a grafite
escrevo teu nome
no canson branco
e o circulo
pra te retratar
inacessível.

o desenho
ainda incompleto
e quase manco
já pressente
ser o nosso encontro
pouco provável.

por isso não sofro:
empunho o grafite
e te sei impossível.

por isso não choro:
pra que marca d'água
em papel descartável?

verdade:
perspectiva,
se consiste na razão das distâncias,
é o contrário de saudade.



Escrito a pedido de Rizza Riizza,
autora dos três últimos versos.

Imagem: croqui de Oscar Niemeyer.