sábado, 24 de maio de 2014

Pixels


Onde, hoje,
a vida real é mais importante
que o seu registro em celulares?
Todos querem mesmo é anunciar
que foram aqui-e-ali
e fizeram isso-e-aquilo.
Ir e fazer tornaram-se méritos em si.
A vivência? Inteiramente secundária.


sábado, 10 de maio de 2014

Ano-luz


(talvez você não entenda,
eu mesma demorei
a compreender o fato)

desde o exato momento
em que me soube mãe,
tudo cresceu em mim:
o amor, o sabor, o olfato

meu filho ainda tão pequeno
e grande o bastante
pra me fazer gestante:
essa condição tão estranha
de criar na própria entranha
uma vida que não a minha
e maior que a minha
e maior que o mundo

(sim, é possível
que você não entenda
e não há problema,
isso não muda nada)

a cada vez
que me digo mãe,
tudo se clareia em mim:
o amor, a dor, a estrada

meu filho ainda tão pequeno
e grande o suficiente
pra me pôr consciente:
essa condição tão estranha
de ver além da montanha
um caminho que não o de agora
e maior que o de agora
e maior que o mundo

(não, ninguém entenderá,
é possível que julguem um desatino)

o menino
que habita meu ventre
é uma estrela

(sim, es-tre-la)

com trajetória celeste
desconhecida,
luz própria, calor,
grandeza

pequenina centelha
sem nome
que me veio trazer
a certeza:

também sou estrela,
somos todos estrelas
maiores que nós,
maiores que o mundo



Escrito para a querida amiga Débora Coghi.