I
feliz e bonita.
um sorriso no rosto,
no cabelo uma fita.
é cheia de graça
e os olhos parecem de purpurina.
traz em uma das mãos um anel
e nos pés, o sonho da bailarina.
o vestido que lhe põem
pode ser de tule ou organza,
de papel ou cartolina.
hermética num plástico
ou permeável num tecido,
toda boneca carrega uma menina.
II
aprendiz aflita.
saltinho na sandália
e vestido de chita.
é cheia de dúvida
e os olhos parecem de lua.
traz em uma das mãos um espelho
e nos pés, o medo da rua.
a rotina que lhe impõem
deve ser de bule e agulha,
de garfo, faca e colher.
reclusa num oceano
ou livre numa gaiola,
toda menina carrega uma mulher.
III
gris senhorita.
colar com dente de javali
e brincos de marcassita.
traz em uma das mãos um leque
e nos pés, o coturno de um soldado.
o destino que lhe propõem
há de ser de sopro e sangue,
de pó-de-arroz e fuligem.
refém do ventre
ou íntima dos hormônios,
toda mulher carrega a própria origem.
Poema divulgado em 2013, em três espelhos distintos,
na Exposição Ventre - Fotografia e Poesia, com Diego Zanotti.