eu era moça e meu filho, um menino.
eu já lhe apontava pr'onde olhar,
mas ainda a ignorar que os olhos
são livres e se antecipam às mãos.
haveriam sempre de pousar
os dele onde quisessem,
assim como os meus, que sabia
tão deslumbrados com os voos
que raramente pousavam.
só os sonhos de infância
sobrevoam a vida.
todos os outros, inventados
por alguma mentira, nublam-se
e caem em queda livre feito chuva.
quem éramos, mãe e filho,
naquele instante evaporado?
o tempo cuidou de se amarelar
na fotografia esquecida à gaveta.
Imagem: fotografia de família.