(talvez você não entenda,
eu mesma demorei
a compreender o fato)
desde o exato momento
em que me soube mãe,
tudo cresceu em mim:
o amor, o sabor, o olfato
meu filho ainda tão pequeno
e grande o bastante
pra me fazer gestante:
essa condição tão estranha
de criar na própria entranha
uma vida que não a minha
e maior que a minha
e maior que o mundo
(sim, é possível
que você não entenda
e não há problema,
isso não muda nada)
a cada vez
que me digo mãe,
tudo se clareia em mim:
o amor, a dor, a estrada
meu filho ainda tão pequeno
e grande o suficiente
pra me pôr consciente:
essa condição tão estranha
de ver além da montanha
um caminho que não o de agora
e maior que o de agora
e maior que o mundo
(não, ninguém entenderá,
é possível que julguem um desatino)
o menino
que habita meu ventre
é uma estrela
(sim, es-tre-la)
com trajetória celeste
desconhecida,
luz própria, calor,
grandeza
pequenina centelha
sem nome
que me veio trazer
a certeza:
também sou estrela,
somos todos estrelas
maiores que nós,
maiores que o mundo
Escrito para a querida amiga Débora Coghi.