Os baús me têm cochichado
coisas. Por sugestão ou enfado?
Bastaria que saltassem todas,
a evasão dos pertences mudos.
Mas não. Eles ficam, as coisas,
os baús e os murmúrios.
Desarmados, roçam-me
os ouvidos, que tremem.
Resposta imprevista
essa que vem dos baús amontoados.
Ficassem ali no canto, hermeticamente
reclusos, só fariam volume na despensa
da casa. São astutos:
criam frestas, de onde
miram minha nuca e orelhas.
A ordem do caos em dia.
O dia do caos em ordem.
Escrito durante as oficinas do projeto Ave, Palavra,
promovido pela livraria A Terceira Margem.
7 comentários:
Ah os baús se eles falassem, se eles ouvissem! Mas guardam mudamente os momentos no segredo de sótãos vazios.
Uma deliciosa poesia.Um encanto.
Beijinhos, Renata
Renata, querida amiga carioca do brejo. Você escreve maravilhosamente bem. Adorei isso:
" A ordem do caos em dia.
O dia do caos em ordem."
Muito bacana, não é?
Bjos
Manoel
Poucos são os que tem sensibilidade para enxergar as frestas de um baú e ouvidos apurados para ouví-los. e você tem o dom de traduzir isso tudo em lindas palavras. Adorei!
Beijo
Renata,
Gostei dos condicionais, espalhados pelos versos. Uma profusão de sugestões inauditas, num poema que merece repetidas leituras.
Um beijo!
foi Pedro Nava que escreveu Baú de ossos, já neste teus o espanto:
pois tudo cabe neste teus etéreos baús
beijo
Báus....baús.... só cabe neles a fantasia........ este poema é letra dentro de letra, palavra de outra palavra, baú dentro de baú.
Opa! Acho que já vi isso ....
beijos grande amiga!
São assim os baús, nunca ficam trancados para sempre...!
beijo
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