quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Milagre



Em oração
sincera
e o coração
em espera,
eu Lhe fiz
um pedido.

Com as mãos
em punho,
aos irmãos
testemunho:
eu o tive
atendido.


Obrigada a Nossa Senhora de Fátima por este presente!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma só razão



Há quem não goste de Natal
por se recordar dos ausentes,
por ser tempo de presentes,
por lhe faltar alguma fé.

Já eu aprecio a data pelo que é:
a saudade de entes queridos,
o mimo aos meus preferidos,
a oração familiar de pé...


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dezembro em nós



sei lá...

Natal e verão
parece que não virão

dezembro passará
sem noite de estrela
e sol vilão

o céu será
todo escuridão
e tempestade

e sem luz e calor
haverá felicidade?

sei não...


Imagem: A noite estrelada, de Vincent van Gogh, 1889.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De poucas palavras



tudo que digo
é honesto

quase tudo que calo
é funesto

amigo
não merece abalo

os outros?
que decifrem meu gesto


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Aos especiais



que haja

lição
em braile

diálogo
em libras

acesso
a espaços

que haja

competição
esportiva

catálogo
de artistas

ingresso
a carreiras

que haja

integração
que não houve

do análogo
que não vê ou não ouve

progresso
daquele que não se move

que haja

ação
do governo

decálogo
em prática

afeto expresso
de quem se comove



Dia Internacional do Deficiente Físico.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Exaustão



tenho andado cansada
de tantas pedras na estrada:
ao meio,
às margens,
em planaltos
e vargens,
reais
ou miragens

tenho andado cansada
de minhas pernas na estrada:
com câimbra,
dormência,
dor
e ardência,
ânsia
e urgência

e não há chegada?
é sem fim
essa estrada?

tenho andada cansada
[de mim]


Escrito em 14 de setembro de 2010.

sábado, 20 de novembro de 2010

Aos negros





que diferença faz
a cor da tua pele,
a textura do teu cabelo,
o passado da tua raça?

fica em paz!
o branco que se rebele
contra o próprio desmazelo
a irmãos de mesma graça.

- hipocrisia
de um povo mestiço
que se rejeita no outro
sem se dar conta disso.

- ignorância
de quem não percebe
que somos nós todos
de uma só plebe.


Dia da Consciência Negra.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Livre arbítrio



Havia planos, Deus!

(...)

Mas eu não sabia
serem todos meus.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Avareza



Por que pensas
tanto em dinheiro,
se sabes que,
além de bens,
nada tens
de verdadeiro?

Sequer consegues
sorrir como faço:
com o desembaraço
das mãos vazias.

Nas digitais
de teus dedos,
há cifrões.
Nas minhas,
cifras e poesias.


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Caminho das pedras



Já me indagaram
sobre a água do meu banho,
imitaram meu perfume
e se benzeram com arruda.

Já me pediram
que criasse algum rebanho,
pra seguirem em cardume
meu livro de autoajuda.

Como se casar em três meses
e ainda se casar por três vezes
antes de chegar aos trinta e três?

Não há feitiço, nem mistério.
Isso tudo é muito sério
para a minha lucidez.


Escrito ao som de Raul Seixas, na estrada Tiradentes/Juiz de Fora, no dia 1º de novembro.

sábado, 30 de outubro de 2010

Platônico





Por que só agora
e não antes?
Há muito
seríamos amantes.
Felizes, talvez,
desde outrora.
E por que não o fez?
Por que só agora?

Que espécie de amor
é essa,
a viver desprovida
de pressa?
É amor que aguarda
retorno
ou que apenas se guarda,
como se morno?

Por que só agora
e não antes?
Temia
que nos fizesse distantes?
O que se perde de vida
a cada hora...
Pretendia dizer-me algum dia.
Pois me diga: por que só agora?


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pura magia





tivesse varinha de condão,
minha vida não seria tão distinta

talvez mais tempo livre
para preenchê-lo

a coragem de pôr tinta
laranja no cabelo

uma granja
em que criasse galinhas

a certeza de ter suas coisas
junto às minhas

nada além,
que a vida se basta...

[tivesse varinha de condão,
daria essa convicção à outra casta]


Em agradecimento à poetisa Mirze Souza,
por me ver com uma varinha de condão em cada dedo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Rasante





O que tem
no peito?
Uma caixa-preta
em perfeito
estado
que contém
cada dado
(indevassável)
de sua cabine:
o que pensa
(mente),
o que sente
(crença)
e até,
bem provável,
o que você
nem define.

O que me soa
mais triste?
É que
(ao que parece)
você só existe
dentro da caixa
e voa,
amiúde,
em altitude
tão baixa,
como quem
desconhece
(incapaz)
a magnitude
(prece)
das asas
que traz.


Presente de aniversário.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Papo furado



Alguém me diga a serventia
deste debate sobre aborto,

se o que reina é a hipocrisia:
a cada cinco fetos, um morto.


Pesquisa realizada em maio do corrente ano.

domingo, 10 de outubro de 2010

Tristeza



é melodia baixa
que se repete
a mesma faixa
a mesma faixa
a mesma faixa

é poesia em tom
de ladainha
o mesmo som
o mesmo som
o mesmo som

é elegia remota
e sem fim
a mesma nota
a mesma nota
a mesma nota


Imagem: Tristeza, tela de Nilza Silva.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Pior que tá, não fica!"



ele pediu voto
como se fosse ingresso.

admitiu
desconhecer o Congresso.

prometeu auxílio
aos pobres e a si.

candidatou-se
como quem dança e ri.

alegou ao povo
ser ele a verdade.

recebeu de São Paulo
real credibilidade?


Tiririca foi o Deputado Federal mais votado no país.

Já dizia Raul Seixas,
ao citar Aleister Crowley em Sociedade Alternativa:
Faz o que tu queres,
há de ser tudo da lei.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dia do idoso



nenhuma ruga sua é sem motivo
o rosto é o retrato de sua história
a prova inconteste de que está vivo
guardada em cada vinco uma memória

talvez seu caminhar seja mais lento
natural fazer-lhe o tempo um agrado
sem pressa pode admirar o vento
mover cada cabelo cacheado

é possível que se sinta sozinho
sem alguns amigos pelo caminho
e chore então um silêncio saudoso

toda essa sua emoção desmedida
é porção que lhe sobeja de vida
- somente a certidão lhe diz idoso


Cem anos é uma bobagem.
Depois dos setenta, a gente começa a se despedir dos amigos.
O que vale é a vida inteira, cada minuto também, e acho que passei bem por ela.
Oscar Niemeyer, nascido no Rio de Janeiro, em 15 de dezembro de 1907.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vide bula



viagra genérico:
o prazer a preço módico
sem critério médico


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Poluição eleitoral



Como posso

crer no candidato,
se antes do mandato

ele já suja a cidade inteira,
a cara lavada em óleo pra madeira
pisoteada por cada pessoa que passa?

Campanha limpa honra o asseio pelo passeio.

Respeita o chão que é público e alheio.
Prioriza o discurso e não o panfleto:
a sua fala em branco e preto.

Aquele lá é predador
a só ver o eleitor

como caça.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Defronte



E quem é você
para oferecer
conselho?
A ironia
de todo dia
diante do espelho.

Alguém
que já viveu além
do esperado?
O sarcasmo
em pleonasmo
disfarçado.

Ninguém lhe disse
ser tolice
o que pensa?
O desafio
em feitio
de ofensa.

Decerto que não
- respondi secamente -
que não sou de sermão,
mas de ser confidente.


De uma amiga confidente para uma amiga de Conselheiro.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O amor e o amor do outro



Eu também
não amo
melhor
nem pior
do que ninguém.

Amo como sei.
Nem do jeito
que aprendi,
mas sim
de como inventei.

Um amor
cujo fim
seja sempre possível,
queira Deus
improvável.

Um amor
que a mim
pareça infalível
e à poesia,
quase inefável.

É assim
que eu amo:
com lábios e língua,
hálito, saliva
e todos os dentes.

Desde que o outro
não me deixe
à míngua,
que só há amores
se equivalentes.


Escrito a partir de O amor e o outro, de Affonso Romano de Sant'Anna.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Peregrinas



sempre saio
a caminho das letras
e me perco
entre sílabas

as palavras
não têm lugar


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Volante



Estou sempre de partida,
que não sei estacionar-me.
Vaga, a ti não parece
a vida sem charme?


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lírica



Sexo se faz com tão pouco:
corpo,
intenção,
movimento.

Amor é bem mais complexo:
alma,
atenção,
alimento.

Fato a que não se atravessa:
sexo sem amor é ato,
amor com sexo é peça.


Imagem: Romeu e Julieta.

sábado, 21 de agosto de 2010

O cúmulo do egoísmo



Ao trocar de lugar contigo,
eu ponho em ti o meu umbigo.
E se te faço algum bem é por mim:
eu, distinto do que vim.


Já dizia Raul Seixas,
falecido há exatos 21 anos:
O meu egoísmo é tão egoísta que o auge do meu egoísmo é querer ajudar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O mágico emblema



Não admito
que me ditem
as letras.

Não há rito
pra que se editem
os versos.

Vale o escrito:
livre, por conseguinte.

Tão mais bonito,
quanto menor o requinte.


Escrito a partir de O trágico dilema, de Mário Quintana:
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer,
é porque um dos dois é burro.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Belo e a Fera



você me chama
de gata
e eu lhe digo
quem me dera

eu teria
sete vidas:
uma pra cada
quimera

desde que
garantidas
suas mãos
à minha espera


Presente de aniversário.

sábado, 14 de agosto de 2010

Em alto e bom som



tantos os porquês
que optou pela mudez:
disse-lhes bem mais


domingo, 8 de agosto de 2010

Amazona



Jamais adia
sim ou não.
Repudia
a dúvida.
Prefere
precipitação
a inércia.
Ainda que tropece.

Até quem a conhece
a diz insana.
Mas se a julga
infeliz
se engana.
A vida, curto intervalo.
Alguns vão a pé.
Ela segue a cavalo.



Fotografia minha: Cedro.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A [ciden] tal felicidade



poeira fina
talvez purpurina
que se tem à mão

de que só se apercebe
aquele que a vê
pender ao chão


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Inalante



meu sonho de menina
parece de éter agora:
me alucina
e se evapora


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Maria Clara - uniVersos femininos



A obra que se fez do encontro
de doze poetisas espalhadas pelo Brasil
será oficialmente lançada
durante a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo,
no estande da LivroPronto Editora,
de 12 a 22 de agosto deste ano.

O pré-lançamento será hoje às 20:30 h.,
na Casa de Cultura Popular em Caicó/RN,
terra natal de Hercília Fernandes,
organizadora do livro.

Em Belo Horizonte/MG,
o lançamento ocorrerá no mês de setembro,
em local e data a serem ainda confirmados.

Registro, desde já,
minha satisfação e alegria
em ser uma dessas dozes Marias
de mãos dadas em tão bela obra!


terça-feira, 27 de julho de 2010

Aos mascarados



Há tantos
bons modos
de alienar-se.
Pra que
o disfarce?

É incapaz
de saciar-se
com prazeres
inofensivos?

Precisa exibir-se
voraz,
autopredador
entre seres vivos?

Diante do espelho,
empenhe-se ao pavor
de descobrir-se
a própria presa.

Até lá,
conselho algum
lhe fará
defesa.



Após Pulp Fiction,
de Quentin Tarantino.

Imagem: Remorso,
de Salvador Dalí, 1931.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Na balança



oscilo
entre o que é
e o que suponho,
realidade
e sonho,
lucidez
e devaneio

titubeio
entre o que vejo
e o que imagino,
desejo
e desatino,
cupidez
e desprezo

à falta de um contrapeso


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Olfato



sabe-se
verdadeira
uma amizade,
não por proximidade,
mas por sua essência:

aroma de permanência


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Disparates



o mais triste
é o despiste
o faz-de-conta
da não afronta
o descaso
a longo prazo
a inverdade
da intimidade

o mais feio
é pôr-se alheio
a hipocrisia
do bom dia
a aspereza
da gentileza
o improviso
do sorriso

[como se não se amassem]


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Crua



Assim
que chega
ao lar,
livra-se
de anel,
brinco
e colar...

Por isso,
não se tatua.
Sem o prazer
de despir-se
toda,
nunca mais
estaria nua.


Escrito a partir de:
"Revelar a tatuagem é revelar o que, no corpo,
esconde-se mais do que o próprio corpo,
com o propósito, entretanto, de se revelar."
Francisco Bosco, em Tattoo You, de Banalogias.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A parede, além de ouvidos



Insaciável a parede.
Tão logo pintada,
novamente se enche
de sede.
A perder-se,
quase chega
a coitada:
trinca
e infla,
de si infiltrada.

E, recostada à cabeceira,
como se ainda
à beira de um sonho,
com a tinta
eu me ponho
intrigada,
a indagar:
_ A que assistiu
cada camada?
Pois se logo
se consumiu a parede,
não há de ter sido
por nada.


Durante leituras de Manoel de Barros.

domingo, 4 de julho de 2010

Mão única



A vida é uma via
aonde se passa sem volta.
A vida é um havia.


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Amor de rendição



Se te sou motivo
de desagrado,
porque vivo
a te pedir
palavras
de apaixonado,
por que te manténs,
com tantos poréns,
enfim,
ao meu lado?

É assim
que amo
e bem conhecias
esses meus modos
de século antepassado:
o apego às poesias,
o apreço pelo fado,
o sossego das mãos
em repouso
no avesso do bordado.

Vazias,
mas sempre ao aguardo
de um afago
mais que querido,
tido por inesperado,
que te ponhas
a meus pés
rendido
e em minhas fronhas
enamorado...


Imagem: A Girl Reading in a Sailing Boat,
de Alfred Chantrey Corbould, 1869.

domingo, 27 de junho de 2010

O be-a-bá



Sobretudo à crítica,
é imprescindível educação.
_ Narra o jogo, Galvão!


terça-feira, 22 de junho de 2010

Inverno



---------------faço-me
-------------novelo de lã
-----------teço-me casulo
-----de modo que toda manhã
-------chamam-me ao lençol
-----------pra beber o sol
----------------engulo

-------------------e
-------------------m
--------------x-í-c-a-r-a
-------------------d
-------------------e
-------------------a
-------------------s
-------------------a


Durante leituras de Leminski.

sábado, 19 de junho de 2010

A Saramago



Antes que te vás, merecidamente em paz,
para conheceres os tantos saberes que nos são dormentes em vida,
permite-me, por obséquio, uma tão breve despedida,
que não ousaria atrasar-te a ida.
Segue, homem, com toda honraria e haste à Ilha Desconhecida,
consternada te digo, pois deixaste cada obra tua
como que autografada comigo.


"todas as ilhas, mesmo as conhecidas,
são desconhecidas enquanto não desembarcamos nelas"
O Conto da Ilha Desconhecida

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Outono



cortina cerrada
a pálpebra encerada
as lágrimas secas


domingo, 13 de junho de 2010

[...]



noite
de estrelas
sem letras

tudo
como gostaria

um romance
mudo
com a poesia


terça-feira, 8 de junho de 2010

Brasil



Chamem-me de patriota
à vontade.
Eu amo
onde nasci.
É daqui
minha naturalidade.
Distante,
estou fora d'água,
com a mágoa
de minha fala
não ser boa
o bastante.
Meu chão é este,
em que piso
e me pronuncio,
em que não preciso
do desvio
da língua e origem:
palavra,
paladar,
papel moeda,
lugar
e bandeira.
Meus olhos,
alhures,
a tudo corrigem.
Sou de alma
brasileira.


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Vasculha-dela



Será
essa mania
de revirar tudo
tão feminina,

porque,
um dia,
toda menina
brinca de casinha
e faxina?


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em rotação



O destino,
senhor ou não
de si

[que diferença
faz]

um dia nos traz
e sorri,

noutro
nos retira
e lamenta.

Da Terra
[que gira]

ir e vir
são gracejos
de menta:

ardem,
à medida
que venta.


Para Tereza.