terça-feira, 26 de maio de 2015

Hari Om Tat Sat


a verdade
é que me deram
quase tudo:
nome,
sobrenome,
filiação,
religião,
língua,
pátria
e identidade.
quase tudo,
à exceção da verdade:
eu sou aquilo que não me deram.



Hari Om Tat Sat = aquilo que é a Verdade.
Criador e criação são apenas um.

domingo, 10 de maio de 2015

Retido

 
ela o havia perdido.
assim,
sem aviso prévio,
sem motivo certo,
sem o ter conhecido.
 
a notícia seca
a lhe engasgar o peito.
 
o choro contido,
o único meio de se fazer ininterrupto.
 
a vida jamais voltaria à de antes.
 
teria sempre
o sorriso imperfeito,
o abraço doído
e a alma triste.
 
e a maioria lhe dizia em tom de chiste
que logo, logo lhe viria outra espera.
 
o maior absurdo acerca do aborto
é que poucos o veem como filho morto.
 
o luto foi seu e de mais ninguém.
 
 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Aos ares

 
o poema voou,
não sem antes
me chamar
a segui-lo.
 
sem asas,
como poderia
me arriscar
àquilo?
 
ainda que saltasse
ao sopro do vento,
eu sempre estaria
sem movimento.
e se o ar sôfrego
perdesse o fôlego?
trôpego, eu cairia
em dois tempos.
 
o poema voltou
e me disse
que o voo
é desejo.
 
em brasas,
ele haveria
de me levar
num lampejo.
 
foi assim que saltei
ao sopro do vento,
ao inspirar o primeiro
pensamento.
e se o desejo trôpego
perdesse o fôlego?
sôfrego, eu planaria
no contratempo.