quarta-feira, 30 de junho de 2010

Amor de rendição



Se te sou motivo
de desagrado,
porque vivo
a te pedir
palavras
de apaixonado,
por que te manténs,
com tantos poréns,
enfim,
ao meu lado?

É assim
que amo
e bem conhecias
esses meus modos
de século antepassado:
o apego às poesias,
o apreço pelo fado,
o sossego das mãos
em repouso
no avesso do bordado.

Vazias,
mas sempre ao aguardo
de um afago
mais que querido,
tido por inesperado,
que te ponhas
a meus pés
rendido
e em minhas fronhas
enamorado...


Imagem: A Girl Reading in a Sailing Boat,
de Alfred Chantrey Corbould, 1869.

domingo, 27 de junho de 2010

O be-a-bá



Sobretudo à crítica,
é imprescindível educação.
_ Narra o jogo, Galvão!


terça-feira, 22 de junho de 2010

Inverno



---------------faço-me
-------------novelo de lã
-----------teço-me casulo
-----de modo que toda manhã
-------chamam-me ao lençol
-----------pra beber o sol
----------------engulo

-------------------e
-------------------m
--------------x-í-c-a-r-a
-------------------d
-------------------e
-------------------a
-------------------s
-------------------a


Durante leituras de Leminski.

sábado, 19 de junho de 2010

A Saramago



Antes que te vás, merecidamente em paz,
para conheceres os tantos saberes que nos são dormentes em vida,
permite-me, por obséquio, uma tão breve despedida,
que não ousaria atrasar-te a ida.
Segue, homem, com toda honraria e haste à Ilha Desconhecida,
consternada te digo, pois deixaste cada obra tua
como que autografada comigo.


"todas as ilhas, mesmo as conhecidas,
são desconhecidas enquanto não desembarcamos nelas"
O Conto da Ilha Desconhecida

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Outono



cortina cerrada
a pálpebra encerada
as lágrimas secas


domingo, 13 de junho de 2010

[...]



noite
de estrelas
sem letras

tudo
como gostaria

um romance
mudo
com a poesia


terça-feira, 8 de junho de 2010

Brasil



Chamem-me de patriota
à vontade.
Eu amo
onde nasci.
É daqui
minha naturalidade.
Distante,
estou fora d'água,
com a mágoa
de minha fala
não ser boa
o bastante.
Meu chão é este,
em que piso
e me pronuncio,
em que não preciso
do desvio
da língua e origem:
palavra,
paladar,
papel moeda,
lugar
e bandeira.
Meus olhos,
alhures,
a tudo corrigem.
Sou de alma
brasileira.


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Vasculha-dela



Será
essa mania
de revirar tudo
tão feminina,

porque,
um dia,
toda menina
brinca de casinha
e faxina?