a sala
de estar despida
de móveis
me convida
a também estar
imóvel
a parede
da memória
sem retrato
o tapete
do desejo
sem poeira
a estante
da ilusão
sem bibelôs
as almofadas
de sonhos
sem espuma
no vazio
a minha voz
se torna eco
desse silêncio
que há
em nós
somos todos o imóvel
em que acumulamos
as coisas
e acabamos por crer
que somos as coisas
que acumulamos
a sala
de jantar inerte
no apartamento
me adverte
a sempre jantar
sem fome
a panela
de pedra
sem tampa
a chama
de fogo
bem branda
os pratos
tão rasos
quanto os olhos
os talheres
ainda mais leves
que as mãos
a verdade
é que a vontade
desaparece
nesse silêncio
que há
em nós
somos todos o imutável
em que acontecem
as coisas
e acabamos por crer
que somos as coisas
que acontecem
a casa inteira me grita
em meio à mudança:
tudo vem
fica
se cansa
e parte
antes que se diga
assim seja
pois que
assim seja
simplesmente
porque assim é:
muito além
de tudo
que eu sinta
ou veja
3 comentários:
Tão belo como verdadeiro
"Que assim seja"
Feliz Páscoa.
Bjis
Renata, lindo poema.
Adoro seus temas.
dá sempre a sensação de que somos muito maior do que tudo isso.
- parabéns.
Grande abraço. Namastê.
Ahhh, Rerrê... fui até sua sala,
me esvaziei e voltei.
Você - sempre inteira;
a nos inteirar da vida
e suas vivências.
receba a revoada de beijos-flor
que lhe envio por essa varanda iluminada da foto
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