sem lavar os olhos, eu farejo
coisas a quilômetros
você nem desconfia, mas
deixou vestígios no azul
do azulejo da pia antes mesmo
de abrir esta torneira de água
barrenta e fria
saiu de mãos sujas e elas cheiram
ainda mais à distância,
que piedade
o podre se agarrará às unhas
quanto maiores a ganância
e a maldade
deixe-me aqui:
ciente de que esta água
fria e barrenta a seguir
pelo ralo bolorento
me orienta a abrir os olhos
de remela
sem lavá-los, eu farejo
coisas a quilômetros
minha alma é lavada a barrela
Imagem: Lavadeira do Rio,
tela de Cláudio Dickson.
Um comentário:
Poetisa,
Que conjunção perfeita o poema e a ilustração. Gosto das reviravoltas de seu carrossel de palavras, que nunca nos levam onde esperamos: uma descoberta, cada verso.
Beijo!
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