estranho esse estranhamento com a morte,
visto que ela se anuncia desde o primeiro
segundo de vida.
morre o homem aos noventa e muitos anos
e vai tão cedo!, por que tão cedo?, tão
querido que era, tanta falta fará.
será isso?
que saudade ansiosa seria essa a já
se queixar da ausência diante
do cadáver?
se não aos noventa e tantos anos muito bem
vividos, em que outra idade se poderia morrer
sem essa invariável sucessão de lamentos?
lamenta-se, afinal, o morto ou a morte?
a saudade é pretérita. é o choro da lembrança.
a confissão de impotência do homem, que, por mais
avançada a ciência, jamais se deslocará no tempo
além de nas escassas memórias.
o corpo é finito. é acúmulo de células.
a mansidão da matéria, que se sabe
provisória e simplesmente aceita
a circunstância.
que ninguém se engane: o morto é a morte.
o sussurro fúnebre aos ouvidos. o sinal ostensivo
de que o fim é próximo, queira Deus o mais
distante possível.
todo homem é menino.
A Manoel de Barros.
7 comentários:
Homenagem a tua que me emocionou.
Aos noventa e poucos, um menino.
Beijo Renata!
Lindo, Renata...
Justa homenagem a este poeta impar, que a partir da desconstrução do texto acadêmico construiu sua obra, marcada pela originalidade.
Um abraço. Tenhas uma boa noite.
Muito bonito.
Bela homenagem!
Lindo!! Ele amanheceu hoje mais passarinho do que sempre!!
Beijoo'os
flores-na-cabeca.blogspot.com
Manoel menino nos preparando para a vida.
Delícia de se ler.
Saudade distante para cultivar.
lindo, Rê.
encontrei, aqui, a transcrição da sensação q eu tive diante da notícia.
um beijo
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