quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Sapiência


e não havia o que ser dito
nem sempre a palavra cabe
nem sempre a palavra sabe
é o corpo que assume o rito
o pulso feito bússola da vida
nem sempre o olhar enxerga
nem sempre o olhar enverga
e a direção é sempre sentida
o corpo a anteceder a mente
que se cale a boca da língua
que se fale a língua da boca
que verdade é sempre silente
se não havia nada a ser dito
é porque o corpo era sóbrio
é porque o corpo era sábio
e sabia que o saber é finito



... sapientia, que quer dizer conhecimento saboroso.
Sapere, em latim, tem o duplo sentido de "saber" e "ter sabor". 
Rubem Alves, em Variações sobre o prazer.
  
Imagem: Vitarka mudra.

3 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

Primeiros versos do ano.
Feliz 2015!

Fabrício César Franco disse...

Poetisa,

Seus versos têm sabor e sabem. Sapere, aqui, completo.

Um beijo e felizes novos dias!

Darlan Lula disse...

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻