quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Amor de papel

 
há grandes amores que só existem no papel. são tão pequenos que
cabem na sombra das letras e tão frágeis que se apagam antes do
ponto final. se reescritos, insistem no rascunho. o papel sujo, a
letra torta a tropeçar na pauta e a avançar sobre as margens.
amores pequenos que se agigantam nas palavras, como se
pudessem voar. mas não. são amores de papel, que não
resistem às lágrimas e trovoadas do céu. amores tolos
que temem a experiência do salto antes do abismo,
fadados a jamais se provarem no ar. sob as letras,
alimentam-se de sonhos e de medos. mantêm-se
em juras e segredos. enfim despencam no vão
das entrelinhas. pequenos grandes amores
que se querem somente estória. e que se
escrevem a lápis e à sombra de outras
histórias. para se apagarem sempre
no silêncio de alguma outra dor.
 

3 comentários:

Arco-Íris de Frida disse...

Que lindo texto...

Fabrício César Franco disse...

Querida poetisa,

Forma e conteúdo: dessa vez, foi o pacote completo. Sim, já provei destes amores (quem não, quando se é leitor?), e ficou mesmo aquela sensação de rascunhos dentro das margens. Como se uma ideia melhor lhe aprouvesse. Como se o texto não fosse o suficiente.

Beijo e obrigado pelo chamado!

Márcio disse...

Muito bom o texto, minha filha, e maior ainda as verdades, "são amores de papel, que não resitem às lágrimas e trovoadas do céu", todos nós passamos por isto, maravilhoso.
Beijos.