domingo, 8 de março de 2015

Trilogia feminina

 
I
 
feliz e bonita.
um sorriso no rosto,
no cabelo uma fita.
é cheia de graça
e os olhos parecem de purpurina.
traz em uma das mãos um anel
e nos pés, o sonho da bailarina.
o vestido que lhe põem
pode ser de tule ou organza,
de papel ou cartolina.
hermética num plástico
ou permeável num tecido,
toda boneca carrega uma menina.
 
 
II
 
aprendiz aflita.
saltinho na sandália
e vestido de chita.
é cheia de dúvida
e os olhos parecem de lua.
traz em uma das mãos um espelho
e nos pés, o medo da rua.
a rotina que lhe impõem
deve ser de bule e agulha,
de garfo, faca e colher.
reclusa num oceano
ou livre numa gaiola,
toda menina carrega uma mulher.
 
 
III
 
gris senhorita.
colar com dente de javali
e brincos de marcassita.
traz em uma das mãos um leque
e nos pés, o coturno de um soldado.
o destino que lhe propõem
há de ser de sopro e sangue,
de pó-de-arroz e fuligem.
refém do ventre
ou íntima dos hormônios,
toda mulher carrega a própria origem.
 
 
 
Poema divulgado em 2013, em três espelhos distintos,
na Exposição Ventre - Fotografia e Poesia, com Diego Zanotti.

7 comentários:

Si Lima disse...

Que lindeza!
Da gente ler e reler e reler *-

Beijo'oo

Paulo Rogério disse...

feliz e bonita, aprendiz aflita, gris senhorita...
Reunindo os espelhos: toda mulher carrega a própria boneca...
Belo, burilado, sentido poema como tudo o que escreve!
Imagino como possa ter sido apreciada a Exposição Ventre!

Paulo Rogério disse...

feliz e bonita, aprendiz aflita, gris senhorita.
Reunindo os espelhos, vejo, que toda mulher carrega a própria boneca...
Belo, sentido, burilado poema, como todo que faz! Imagino que tenha sido um grande sucesso na Exposição Ventre!

pietkra katrini tebesko neves disse...

Uauuuuuuu. Realidade contada de forma tao doce.......

Renata de Aragão Lopes disse...

Simone e Pietkra, obrigada pela visita! =)

Paulo Rogério, os espelhos, dispostos lado a lado, realmente permitiam leituras paralelas... Foi uma experiência fantástica, inclusive pra mim!

Grande abraço a todos!

Ricardo Mainieri disse...

Poema de esplendora maturidade. O domínio técnico aliado a uma sensibilidade apurada resulta em três momentos de uma poesia feminina e instigante.
Parabéns!

Fabrício César Franco disse...

Bom de reler, mesmo!

Obrigado por tanto talento, poetisa! Feliz todos os dias!