terça-feira, 21 de abril de 2015

Sobrevoo

 
eu era moça e meu filho, um menino.
eu já lhe apontava pr'onde olhar,
mas ainda a ignorar que os olhos
são livres e se antecipam às mãos.
haveriam sempre de pousar
os dele onde quisessem,
assim como os meus, que sabia
tão deslumbrados com os voos
que raramente pousavam.
só os sonhos de infância
sobrevoam a vida.
todos os outros, inventados
por alguma mentira, nublam-se
e caem em queda livre feito chuva.
quem éramos, mãe e filho,
naquele instante evaporado?
o tempo cuidou de se amarelar
na fotografia esquecida à gaveta.
 
 

Imagem: fotografia de família.

2 comentários:

Fabrício César Franco disse...

Poetisa,

... É engraçado perceber esse desvanecer da memória, ainda que materializada numa fotografia. Talvez, inconteste, o gasto da mesma nos force a enfrentar a verdade de que tudo fenece, mesmo que belamente.

Beijo!

Brunno Lopez disse...

Registro e textos magníficos.
Assim são as coisas que funcionam naturalmente. Ainda bem, não?