sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vitrine



A poesia
era minha.
Eu a fazia
e escondia
na gaveta.

A escrivaninha
ficou pequena
pra tanto papel
de rascunho
e caneta.

Que fazer
com tanto poema,
se o punho
ainda teima
a escrever?

Eu os ponho
na vitrine
como doces de lira.
É sonho ou você delira
quando os lê?


Quase 2 meses de vitrine: cerca de 500 visitas e 30 seguidores.
Obrigada a todos, até mesmo aos anônimos de todo canto do mundo.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pelo ralo



eu protejo
o choro
até o banho

lágrimas
e gotas de azulejo
têm iguais
intervalo
e tamanho

e seguem
pelo ralo
indefinidas

- ninguém mais
pra saber de nossas vidas


sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mero mortal



Ele

não vem
do diploma,

nem do juramento
de Hipócrates, do CRM,
do estetoscópio ou do bisturi.

É quem, no paciente, vê-se diante de si.

Aquele que examina e conforta.
E suporta a lágrima alheia
só pelo hábito do ofício.

Antes da carreira,
um sacrifício:

cuidar.




Homenagem aos competentes e atenciosos médicos que tanto nos auxiliaram no decorrer da semana:

- Dr. Cláudio C. Vieira Marques, meu querido e eterno pediatra, consultor de todas as horas.

- Dra. Elimar Jacob Salzer Rodrigues, psiquiatra, mestra e professora da UFJF.
(http://www.unimedjf.com.br/noticias_detalhe.aspx?id_conteudo=551&id_area=7&id_categoria=86)

- Dr. Antônio Gabriel Ribeiro Costa, oftalmologista.
(http://www.hojf.com.br/)


- Dr. Carlos Augusto de Albuquerque Damasceno, excelente neurologista.


terça-feira, 19 de maio de 2009

A saudade em 3 atos



I -
A saudade é perpétua
no intervalo
em que acontece.
Será que ela existe
- já que tudo que vive perece?
Será ela um elo
imaginário
que me une
a quem amo?
Um escape?
Um placebo?
Uma dor
que concebo
- e nem percebo -
para abrandar
a dor
da ausência?
A ignorância
de uma impaciência?
Uma farsa
de que o amor
é comparsa?
O reencontro
alinhava
esse corte
- ferida
que reabre
às despedidas.
A saudade não tem
como sina
a morte.


II -
Para a saudade
- elixir calmante
que intoxica
os amantes -
não há antídoto
ou algo
que a trate.
É como tempo perdido:
foi-se.
É sentimento exaurido:
foice
- a cujo rasgo
se costura
sem arremate.
Um engasgo
sem tapa
nas costas.
Uma ardência
sem o alívio
do sopro.
Um choro contido:
à mostra.
Um coração partido:
amostra
- caco de vidro
refratário.
A saudade
está perene
no calendário
- a datas não se mata.


III -
À saudade,
só uma ameaça:
a de que a graça,
o encanto
até por quebranto
se quebre.
Pois, enquanto
houver amor,
das entranhas
ela será febre.
Estranha
será, depois,
se houver
rompimento.
Ex-amor,
ex-saudade
dobram
juntos
o cruzamento.
E se desdobram
na dúvida
de que parti:
existiram por si
ou por invento?


Publicado no Poema Dia em 23 de março de 2009.
Avaliado, há poucos dias, pelo Estúdio de Criação Poética, que me convidou a integrar o grupo.


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Desde menina



Pequenina, dormia com Deus
e sonhava com os anjos.
Acordava com velas acesas
em meio a arranjos.
Minha mãe me falava de almas
e apontava o céu
como a casa do Pai.
Todos dizem
que a casa da gente
tem a aura diferente,
uma paz
que por nada
se esvai.
Meu avô
sempre esteve na nuvem
mais bela que havia
por detrás da colina.
Hoje entendo
o que diz o Pai-Nosso,
mas venho rezando
desde menina...


Escrito há mais de 15 anos.
Prêmio de edição no I Concurso Literário São Miguel em Prosa e Verso, realizado em 2004.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Dia das mães (dos filhos)



Filho,

de todos, você é
meu melhor poema.

O único pronto, acabado,
de que não tiraria um ponto sentado,
uma exclamação em salto ou mesmo um trema.

Você é a poesia de que fiz a caligrafia em papel de seda...

A única que diz o que há bem lá no ventre de mim
e que carrega, assim, em voz entonada,
minha maior interrogação:

_ A vida seria em vão?
Pelo não, obrigada,

filho!


Soneto blavino:
forma criada por Volmar Camargo Júnior e Juliana Blasina,
apresentada por Beatriz em
http://compulsaodiaria.blogspot.com.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A genialidade do óbvio


Era noite.
Apagou-se a luz.
Ainda na escada,
eu me pus
a sacudir a lâmpada
queimada,
para conferir
o filamento solto
de tungstênio.
E não é que dela
saltou um gênio?


Bizarro.
Concedeu-me
três desejos,
desde que hilários.
Lembrei-me
dos contratempos diários
e pedi:
_ Que a fumaça de cigarro
suba diretamente
ao nariz do fumante!
_ Que a mentira faça,
por instantes,
a mão de quem a disse
totalmente amarela!
_ Que, à próxima tolice
ou falta de educação de vizinho,
em minha casa
se queime
uma lâmpada como aquela!


O gênio sorriu,
atendeu-me,
mas partiu aflito.
Precisaria voltar quantas vezes
até que, ao mundo,
fosse dito
o óbvio?