terça-feira, 19 de maio de 2009

A saudade em 3 atos



I -
A saudade é perpétua
no intervalo
em que acontece.
Será que ela existe
- já que tudo que vive perece?
Será ela um elo
imaginário
que me une
a quem amo?
Um escape?
Um placebo?
Uma dor
que concebo
- e nem percebo -
para abrandar
a dor
da ausência?
A ignorância
de uma impaciência?
Uma farsa
de que o amor
é comparsa?
O reencontro
alinhava
esse corte
- ferida
que reabre
às despedidas.
A saudade não tem
como sina
a morte.


II -
Para a saudade
- elixir calmante
que intoxica
os amantes -
não há antídoto
ou algo
que a trate.
É como tempo perdido:
foi-se.
É sentimento exaurido:
foice
- a cujo rasgo
se costura
sem arremate.
Um engasgo
sem tapa
nas costas.
Uma ardência
sem o alívio
do sopro.
Um choro contido:
à mostra.
Um coração partido:
amostra
- caco de vidro
refratário.
A saudade
está perene
no calendário
- a datas não se mata.


III -
À saudade,
só uma ameaça:
a de que a graça,
o encanto
até por quebranto
se quebre.
Pois, enquanto
houver amor,
das entranhas
ela será febre.
Estranha
será, depois,
se houver
rompimento.
Ex-amor,
ex-saudade
dobram
juntos
o cruzamento.
E se desdobram
na dúvida
de que parti:
existiram por si
ou por invento?


Publicado no Poema Dia em 23 de março de 2009.
Avaliado, há poucos dias, pelo Estúdio de Criação Poética, que me convidou a integrar o grupo.


12 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

3 atos ainda não dizem tudo...

Beatriz disse...

Se 3 não dizem eu li aqui algo que disse muito. Ex são dobras sobre desesperanças que nos invadem. Aí a gente ex-pulsa, ex-fingeque pssou. Mas a poesia, como os anjos, toca nossos ombros, com a ponta dos dedos, e esse movimento pro ex- terno cede a um sentimento da espécie de um farfalhar desconhecido mas presente. Saudade porde ser isso. Um vigor inesperado. Uma cintilância poética


*eita que eu nem vi no estúdio? e logo eu que quis tanto tua entrada qua s´´o trouxe mais conteúdo, poesia e alegria ali? Volto lá pra fuçar, Renata. Passei batido. Pudera, ando em processo de adaptação aqui nas "Bahias".
Beijo em vc e nessa rpimorosa obra poética. Sim! Obra!

Adriana Godoy disse...

Um tratado sobre a saudade, sensível. pungente, belo. Gostei muito. beijo.

Renata de Aragão Lopes disse...

Beatriz querida, fico sempre muito feliz com sua receptividade e carinho! Eu vi o seu empenho para que eu entrasse no Estúdio. Obrigada mesmo (a você e ao Volmar) pela oportunidade! Agora somos amigas em vários blogs! E por que não na vida, mesmo com toda essa distância Bahia-Minas? rs Um abração.

Adriana, sua presença frequente em meu blog me faz muito satisfeita. Adoro, também, visitar o seu espaço! Um beijo.

Moni Saraiva disse...

É verdade, Renata...
Saudade é o próprio ato, cena cheia, inteira.
Ainda bem que move a poesia...melhor assim.

Abraços...

Daufen Bach disse...

Olá Renata,

Aqui lendo-te. Nao sei como vim parar aqui. de qual link despenquei...rs, mas o fato é que gostei muito de tua poesia, do teu espaço.
Parabéns viu, tudo muito bonito.

abraço a ti

daufen bach.

(lewmbrei-me, te vi na Adriana Godoy..rs)

Igor Ravasco disse...

Cheguei aqui via "Fabrício Blog Carpinejar" e para dizer alguma coisa, digo apenas que gostei do que li... dos que li.

Renata de Aragão Lopes disse...

Abração, Moni! Fico feliz por acompanhar meu blog, pois também gostei muito do seu.

Obrigada, Daufen, por haver despencado (rs) e permanecido aqui! Também acompanho a bela produção da Adriana Godoy. Um abraço.

Obrigada, Carta e Verso, pela visita! Também conhecerei o seu espaço. Um abraço.

Renata de Aragão Lopes disse...

Não sabe como suas palavras vieram em boa hora. Ou sabe... Profeta? rs

Obrigada. Volte sempre!

Flávia Ruas disse...

Lindo! Parabéns!
Como disse Fernando Pessoa, " a saudade é um cais de pedra"...

Abraços...

Eduardo Barbossa disse...

Seus 3 atos da saudade são inspiradores e acima de tudo reais.
Você escreve muito bem.
Parabéns.

Obrigado por sua visita.
Também sigo você.


Eduardo

Renata de Aragão Lopes disse...

Flávia e Eduardo, grata pelos comentários!