quinta-feira, 8 de julho de 2010

A parede, além de ouvidos



Insaciável a parede.
Tão logo pintada,
novamente se enche
de sede.
A perder-se,
quase chega
a coitada:
trinca
e infla,
de si infiltrada.

E, recostada à cabeceira,
como se ainda
à beira de um sonho,
com a tinta
eu me ponho
intrigada,
a indagar:
_ A que assistiu
cada camada?
Pois se logo
se consumiu a parede,
não há de ter sido
por nada.


Durante leituras de Manoel de Barros.

39 comentários:

Marcello Lopes disse...

Renata,

Texto digno do Manoel.

Parabéns moça.

Tania regina Contreiras disse...

Um texto que reflete uma excelente habilidade com as palavras e uma percepção sutil, parabéns!
Abraços,
Tânia

Tiago Moralles disse...

Encanto de segunda e outras mãos.

Katrina disse...

Manoel de Barros sempre inspirando boas coisas. Tem uma frase dele que me marcou muito "No chão da minha voz morre um outono"

Renata de Aragão Lopes disse...

Marcello, muito obrigada! Que elogio incomensurável!

Tânia Regina Contreiras, nada como um bom livro à mão e alguns instantes de observação! : )

Tiago Moralles, o que haverá, enfim, por detrás das paredes?

Katrina, Manoel de Barros parece amar o chão, as pedras, os tijolos. Daí, a inspiração!

Um beijo a cada um de vocês!

Unknown disse...

Lindo Renata!

Adoro poemas inspirado em Manoel de Barros.

Ele gostaria de ler este, assim como eu, que amei.

Beijos

Mirze

Anônimo disse...

Uau, Rê! Aproveitou bem a leitura do grande Manoel, pois este poema me arrebatou, assim como os dele. Adorei, querida.

Beijos.

Ribeiro Pedreira disse...

depois de pintada continua a ser estrada de lagartixas.
a cama é testemunha.

Andrea de Godoy Neto disse...

Renata, que lindeza. Bem na corrrente de manoel de barros.

adorei essa parede sedenta, que quer beber além de si.

beijos

Renata de Aragão Lopes disse...

Mirze, quem me dera! : )

Larinha, sua presença é sempre bem-vinda!

Ribeiro Pedreira, ao contrário de mim, o Manoel aprecia até as lagartixas! (risos)

Andrea de Godoy Neto, essa parede tem olhos, além de ouvidos!

Beijos, meus queridos!

Sabrina Davanzo disse...

Lindo e sonoro, Renata! Como você bem sabe fazer.

Usou belos pincéis para pintar tuas palavras.

Beijos com saudades de aparecer por aqui.

Wanderley Elian Lima disse...

É como a vida, feita de camadas sobrepostas , para se chegar à perfeição.
Bjs

Raven disse...

Genial! Adorei!!!

Adoro quem verseja com assuntos aparentemente não versejáveis!

Beijocas!

prosas de outono disse...

Amiga Renata,

Obrigada pelo carinho em sua palavras e pela visitinha lá no "Prosas..."
Volte sempre

Beijinhos
Alex

Renata de Aragão Lopes disse...

Sabrina Davanzo, também eu estava com saudades! Volte sempre!

Wanderley Elian Lima, gostei muito de seu comentário! Obrigada!

Raven, só mesmo Manoel de Barros para me trazer uma inspiração como essa! : )

Beijos!

RICARDO disse...

Renata

Belo poema, belo "muso" inspirador.Parede viva que caminha pelas camadas do seu talento.Parabéns!

Sol disse...

Você sempre recebendo seus convidados com o melhor!!
bjs.Sol

Unknown disse...

Nada ao acaso. Infiltrada, carece de uma mão, de atenção.

10! Delirei...

abraço

Sônia Brandão disse...

Da parede, assim como da pedra, também se tira poesia.
bj

Renata de Aragão Lopes disse...

Ricardo, é tão bom quando uma leitura nos inspira!

Solange, eu os recebo com imenso prazer!

Diu Mota ao delírio! Obrigada! : )

Sônia Brandão, a poesia não estaria nos olhos?

Um beijo a cada um de vocês!

Adriana Godoy disse...

Bela inspiração...as paredes têm ouvidos?
Suas palavras têm poesia. Lindo. beijo

Vivian disse...

...meu Deus que encanto de canto
é este teu canto cercado pelas
paredes poéticas!

delícia chegar aqui para agradecer
tua delicada visita, e encontrar
Manoel de Barros na linha da
inspirção.

bjbj, querida!

Myrela disse...

Estou encantada com a poesia que pode ter uma parede e uma tinta!!
Quanta sensibilidade infla do teu pincel!

Roberta disse...

Renata,

Ganhei a Poesia Completa dele, e tem sido uma leitura constante. Sempre me pego folhendo o livro pra me encantar com o barro bom do menino Manoel. Mas não só de agora Manoel me acompanha, ele que faz compêndio para uso dos pássaros e sai a passear distraído com as coisas do chão.
E o seu poema "A Parede, ..." carrega a leveza terna do olhar do poeta que engrandece o ínfimo e se põe a prosear com as coisas, com tal delicadeza que encanta.
Gostei muito! Também da visita ao meu blog. Virei outras vezes, certamente, e já a linkarei para tornar a vir e ler mais versos de inspirada ternura. :)
Beijo,

Valéria lima disse...

Renata, é difícil não se lambuzar nesse blog. Ah se as paredes falassem!
Estou de casa nova e espero sua visita, meu endereço agora é http://rasurassobreviventes.blogspot.com

BeijooO* te aguardo!

Gerana Damulakis disse...

Muito bem realizado: a habilidade poética que sempre encontro aqui.

Anônimo disse...

Coisa de mestre! Gente grandeee!

Adorei o post!

beijos

Roberto Costa Carvalho disse...

Em um filme, alguém disse a um poeta que a poesia não é de seu autor, mas de quem precisa dela.
Claro, não pretendo apoderar-me dela. Todavia, vou lê-la mais algumas vezes, isso é invitável.

eder ribeiro disse...

Menina, que maestria em expressar tanto sentimentos, com certeza em cada camada de tinta a parede foi absorvendo os signos de todos que por ela passou. Bjos.

Renata de Aragão Lopes disse...

Dri Godoy, as paredes têm olhos, além de ouvidos. E, por isso, guardam tantos segredos... Muito obrigada pelo elogio, querida!

Vivian, seja bem-vinda ao doce de lira! Espero revê-la por aqui!

Myrela, como disse logo acima, imagino que a poesia esteja nos olhos...

Roberta, seu comentário foi muito especial! Que Manoel de Barros nos inspire sempre! : )

Valéria Sorohan, lambuze-se à vontade! (risos)

Gerana Damulakis, muito grata por apreciar minha "habilidade poética"!

Pablo Rocha, agradeço-lhe as palavras com um inevitável sorriso no rosto! : )

Roberto Costa Carvalho, em "Coisa de ninguém", publicado há pouco tempo aqui no doce de lira, eu afirmei que "a poesia não me vem / a poesia não é minha". Dela desfrute, portanto, sem nenhum constrangimento!

Eder Ribeiro, espero que retorne à confeitaria para experimentar os próximos doces! : )

Ramon Alcântara, mais um leitor de Manoel de Barros! Que bom que gostou deste poema!

Beijos a todos vocês!

meus instantes e momentos disse...

que bom vir aqui.
Maurizio

Tania Anjos disse...

Oi, Renata!

Paredes são, mesmo, inspiradoras!

Parabéns pelo blog e poema. Muito bonito e bem escrito.

Bjs,
Taninha

e.deamici disse...

Que belo caminho me indicaste ao deixar tuas palavras em meu cantinho.
Teus poemas fazem jus ao nome deste lugar.. doce.
Beijo

Mara faturi disse...

Bem, lendo " o eterno menino", só poderia sair poema assim;maravilhoso.ADOREI!
Bjo

Marcelo Novaes disse...

Renata,


Ah..., esses olhos baços...





beijos.

Luiza Maciel Nogueira disse...

sim, há de ter sido por algo. a parede que transformas em poesia

bjs

Lou Vilela disse...

Há o(u/l)vidos, há poesia, há beleza...! ;)

Beijos

Flá Perez (BláBlá) disse...

muito doida, só podia ter sidodepois de Manoel...
bjbjbjbjbkj

Renata de Aragão Lopes disse...

Maurizio, Taninha Nascimento e Emili, que bom que apreciam o doce de lira!

Mara Faturi, eu o diria inusitado!

Marcelo Novaes, acompanhado de interjeição e reticências...

Luiza Maciel Nogueira, "sim, há de ter sido por algo"! Obrigada por suas palavras!

Lou Vilela, que comentário peculiar!

Flá Perez, admito: "só podia ter sido depois de Manoel"! (risos)

Beijos!