No reflexo em que me vejo
- olhos nos olhos -
às vezes encontro virtude,
às vezes encontro pecado,
às vezes, bem amiúde,
sequer me encontro deste lado
à frente.
E, desta dúvida, em que procuro
- bem ou mal -
saber se existo,
ao final, o que restará somente?
Uma alma em Cristo
ainda dormente.
Escrito a partir da conjugação da leitura
de O auto-retrato e Espantos,
ambos de Mário Quintana.
Hoje, inclusive, o doce de lira está recomendado pelo wwwpesquisa,que traz o meu e os dois poemas do Quintana acima citados.Obrigada, Tereza Stancioli, por haver me indicado ao lado de um mestre!
Se o amor se acabou,
se de mim se cansou,
se assim se perdeu
o que
até então
se viveu...
Se a paixão se desfez,
se o destino apagou,
se a dor
se instalou
realmente
de vez...
Se as mãos se soltaram,
se os olhos se desencontraram,
se os passos seguiram
caminhos
distintos....
Se falta cumplicidade,
que se sobre coragem,
para ver que
esse fogo
já se foi extinto.
Poema escrito há mais de 15 anos,
classificado no 6º Concurso Álvaro Nuno Pereira.
Integra a obra Pérgula Literária VI,
publicada pela Editora Valença em 2004.
Antes de me agredir
e de tanto
me bater na cara
esta porta,
por que não para
para refletir:
quanto de felicidade
você suporta?
Escrito a partir de:
“Ser feliz é uma responsabilidade muito grande.
Pouca gente tem coragem.”
Clarice Lispector, em Um sopro de vida.
_ Quantas primaveras?
_ Bem mais que anos, minha cara.
Flor não é tão rara...
Presente de aniversário.
Ensinei-lhe não
a exclamação.
A entonação
ele já tinha!
Eu ensinei
foi o ponto,
o tracejo da linha.
Como se lhe dissesse:
_ Pronto, filho,
está apto
a redigir preces,
a rabiscar poemas,
a se deslumbrar em frases
quando queira.E prosseguiu
a aula-brincadeira.
_ Para falar de saudade, mãe,
eu posso usá-lo então?Foi quando lhe ensinei
os três pontinhos:
saudade são reticências no coração...
3ª Menção Especial – honraria destacada
no Prêmio Nova Poesia Brasil 2009.
o tempo passa e a idade avança
sem que a gente se aperceba da marcha
de repente não se é mais criança
inclusive mais cedo do que se acha
da queda da bicicleta à do beijo
da lágrima de manha à de charme
da repulsa ao sexo oposto ao desejo
o tempo segue em ruas sem alarme
quando se vê já se tem uma história
tão bela e rica, tão longa e antiga
que até de si quase a gente duvida
pois se tem como de ontem na memória
a lembrança da primeira cantiga
pela frente ainda toda uma vida
eis uma lição
bem difícil: abrir mão
é um exercício
Com pesar,
eu me despeço
do Estúdio de Criação Poética,
do Mexe-mexe Poesia
e do blog O gato de Odete.
Impossível conciliar
tantas atividades
com o Doce de lira
- que completa, hoje,
exatos 5 meses
e já me exige
bastante dedicação!
Obrigada pelos convites
de antes
e pelas portas
que sei
ainda abertas...
Não.
Nem mesmo um chamego
traz de volta o sossego
ao meu coração.
Doeu muito, sim.
Só eu sei que em mim
se perdeu um pouquinho da minha ilusão.
Carinho não apaga,
quando muito esconde a mágoa
onde a dor perde pra paixão.
Briga de amor é batalha
sem vencedor, nem medalha:
tristeza e rancor em vão.
Escrito há mais de 15 anos.
De que é feito o poeta?
De matéria
etérea
ou concreta?
Do fato
que vivencia
ou da utopia
que projeta?
Ele é feito
de sopro
ou de barro?
Ele habita
o corpo
ou a alma?
O poeta levita
ou mergulha?
A escrita
lhe é fagulha
ou despiste?
O poeta acredita
que existe?
Ele lhe beija a mão,
mas lhe priva
de beijar o pé
à justificativa
de que é
submissão
- como se o amor
não fosse,
por si,
servidão.