segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O espelho



No reflexo em que me vejo
- olhos nos olhos -
às vezes encontro virtude,
às vezes encontro pecado,
às vezes, bem amiúde,
sequer me encontro deste lado
à frente.
E, desta dúvida, em que procuro
- bem ou mal -
saber se existo,
ao final, o que restará somente?
Uma alma em Cristo
ainda dormente.


Escrito a partir da conjugação da leitura
de O auto-retrato e Espantos,
ambos de Mário Quintana.

Hoje, inclusive, o doce de lira está recomendado pelo wwwpesquisa,
que traz o meu e os dois poemas do Quintana acima citados.
Obrigada, Tereza Stancioli, por haver me indicado ao lado de um mestre!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Coragem!



Se o amor se acabou,
se de mim se cansou,
se assim se perdeu
o que
até então
se viveu...
Se a paixão se desfez,
se o destino apagou,
se a dor
se instalou
realmente
de vez...
Se as mãos se soltaram,
se os olhos se desencontraram,
se os passos seguiram
caminhos
distintos....
Se falta cumplicidade,
que se sobre coragem,
para ver que
esse fogo
já se foi extinto.



Poema escrito há mais de 15 anos,
classificado no 6º Concurso Álvaro Nuno Pereira.
Integra a obra Pérgula Literária VI,
publicada pela Editora Valença em 2004.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Morda-se!





Antes de me agredir
e de tanto
me bater na cara
esta porta,

por que não para
para refletir:
quanto de felicidade
você suporta?


Escrito a partir de:
“Ser feliz é uma responsabilidade muito grande.
Pouca gente tem coragem.”

Clarice Lispector, em Um sopro de vida.

domingo, 20 de setembro de 2009

Sapiência



_ Quantas primaveras?
_ Bem mais que anos, minha cara.
Flor não é tão rara...


Presente de aniversário.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Lição de casa





Ensinei-lhe não
a exclamação.
A entonação
ele já tinha!
Eu ensinei
foi o ponto,
o tracejo da linha.
Como se lhe dissesse:
_ Pronto, filho,
está apto
a redigir preces,
a rabiscar poemas,
a se deslumbrar em frases
quando queira.
E prosseguiu
a aula-brincadeira.
_ Para falar de saudade, mãe,
eu posso usá-lo então?
Foi quando lhe ensinei
os três pontinhos:
saudade são reticências no coração...


3ª Menção Especial – honraria destacada
no Prêmio Nova Poesia Brasil 2009.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Sem alarme



o tempo passa e a idade avança
sem que a gente se aperceba da marcha
de repente não se é mais criança
inclusive mais cedo do que se acha

da queda da bicicleta à do beijo
da lágrima de manha à de charme
da repulsa ao sexo oposto ao desejo
o tempo segue em ruas sem alarme

quando se vê já se tem uma história
tão bela e rica, tão longa e antiga
que até de si quase a gente duvida

pois se tem como de ontem na memória
a lembrança da primeira cantiga
pela frente ainda toda uma vida


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Au revoir



eis uma lição
bem difícil: abrir mão
é um exercício


Com pesar,
eu me despeço
do Estúdio de Criação Poética,
do Mexe-mexe Poesia
e do blog O gato de Odete.

Impossível conciliar
tantas atividades
com o Doce de lira
- que completa, hoje,
exatos 5 meses
e já me exige
bastante dedicação!

Obrigada pelos convites
de antes
e pelas portas
que sei
ainda abertas...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Briga de amor



Não.
Nem mesmo um chamego
traz de volta o sossego
ao meu coração.
Doeu muito, sim.
Só eu sei que em mim
se perdeu um pouquinho da minha ilusão.
Carinho não apaga,
quando muito esconde a mágoa
onde a dor perde pra paixão.
Briga de amor é batalha
sem vencedor, nem medalha:
tristeza e rancor em vão.


Escrito há mais de 15 anos.

sábado, 5 de setembro de 2009

Elementar



De que é feito o poeta?

De matéria
etérea
ou concreta?

Do fato
que vivencia
ou da utopia
que projeta?

Ele é feito
de sopro
ou de barro?

Ele habita
o corpo
ou a alma?

O poeta levita
ou mergulha?

A escrita
lhe é fagulha
ou despiste?

O poeta acredita
que existe?


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ama



Ele lhe beija a mão,
mas lhe priva
de beijar o pé
à justificativa
de que é
submissão

- como se o amor
não fosse,
por si,
servidão.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Golpe de vista



e por mais
que se esforce,
meu olhar
ainda nos trai

ao me pôr
em ti
a cada palavra
que sai

se te leio
é sempre ao meio
- da metade
até a mim

e como pode
haver verdade
nisso que é quase
um motim?


Para Talita Prates,
em um diálogo com seu poema Da nudez outra,
publicado em 21 de agosto no espaço
História da minha alma.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A[tre]vida



_ Quantos centímetros a mais?
Como se a vida
fosse uma régua.


_ Quantos quilômetros a mais?
Como se a vida
fosse de léguas.


_ Quantas dúvidas a mais?
Como se ela
não merecesse trégua.



Para Márcia Miranda.

domingo, 23 de agosto de 2009

Nota da Confeiteira


Hoje, por ser dia 23, estou no Poema Dia.

Profissão de fé é um poema
que publiquei em 19 de abril
aqui na Confeitaria,
assim que inaugurada.
Gostaria muito de que vocês
o conhecessem.

Aproveitem para apreciar
a arte de outros poetas.

Obrigada a todos os que me seguem!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Lascívia



ela passa
esmalte vermelho
e se acha!

como pode a cor
das unhas
lhe pintar o humor?

ela para
diante do espelho
e repara:

são os dedos
as testemunhas
dos segredos-
-bordô.



terça-feira, 18 de agosto de 2009

Elas e eles e elas



as mulheres
não vão ao cinema
- apenas -
pela musculatura
viril

os homens, sim,
abdicam da cultura
apenas
por um - bom -
quadril


Escrito a partir de uma reportagem de Isabela Boscov,
publicada na Veja desta semana:
edição 2126 - ano 42 - nº 33 - p. 139.

sábado, 15 de agosto de 2009

Ao Rei





Inicie, se apreciar a música.
Ela foi adaptada de uma melodia lírica do século XVIII
chamada Plaisir d'Amour,
do compositor italiano Giovanni Martini.
Sua tradução:

Homens sábios dizem que só os tolos se apaixonam
Mas eu não consigo evitar de me apaixonar por você
Eu deveria resistir?
Seria um pecado
Se eu não consigo evitar que me apaixone por você

Como um rio que corre pro mar
Querida isso segue
Tem coisas que têm destino certo
Tome minha mão, tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar que me apaixone por você

Como um rio que corre pro mar
Querida isso segue
Como coisas que têm destino certo
Tome minha mão, tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar que me apaixone por você
Porque eu não consigo evitar que me apaixone por você

Elvis Presley
08/01/1935 - 16/08/1977




é o amor real
que de tão especial
parece mentira


A quem me faz Rainha…


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Cá entre nós



Não era triste.
Nem feliz.
Vivia
de uma alegria
inventada.
Sorria
feito atriz.
Disfarçava.
E convencia,
talvez porque
brava.
Quem ousaria
perguntar
a verdade?
Parecia contente.
E pronto.
E ainda havia
gente
que a invejava
por um conto
de felicidade.
O mundo
é tão mesquinho...
Não saberá
das estrelas
que há hoje
em seu céu
marinho.



terça-feira, 11 de agosto de 2009

Papel glacê



Poesia
não tem receita,
mas pra ser
bem feita
precisa ser sua.
Não se cata
verso
na rua!
Ele vem
da própria nata
vinda
do leite
ainda no fogo.
Poeta ferve palavras.
E nelas
polvilho
canela,
açúcar mascavo,
favo de mel.
Daí o brilho
deste papel.


4 meses de blog!
Obrigada a todos que se declararam adocicados aqui...


sábado, 8 de agosto de 2009

Autodidata



O meu pai
já teceu tapete,
redes de peixe,
fios de corda.

O meu pai
já pintou telas,
biscuit e janelas,
paredes e portas.

O meu pai,
com um simples motor,
moldou os mais lindos
times de botão.

O meu pai,
sem saber que fez isso,
ensinou ser possível,
sem sacrifício,
aprender por si
qualquer lição.


Escrito há mais de 15 anos.
Presente de dia dos pais!


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Felicidade



da noite pro dia
a orquídea floresceu
não só ela: eu



Haikaindo de amor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Agosto



e sentiu um prazer estranho
sem razão
forma
ou tamanho

uma sensação repentina
enquanto caminhava
da porta
à janela sem cortina
de onde avistava
uma capela
entre telhados aquecidos

como se tudo
enfim estivesse posto
no lugar devido
e a gosto


Vista do Morro do Imperador - Juiz de Fora/MG