domingo, 29 de novembro de 2009

Dia-agnóstico



só duas palavras
duas palavras somente
tornou-se descrente


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Carta em alto-falante



Ela já quase esqueceu
- mas eu não!
Você merecia
uma surra
antes do perdão.
Posou de bom moço
e era o vilão.
Enganou a todos:
a ela,
à família,
a mim.
Como pôde
ser tão ardiloso
assim?
Namorá-la
por mais de ano.
Cada fala
a lhe calar
a verdade.
Estava pra se casar
noutra cidade.
A data marcada
na igreja
e no papel.

Onde quer que esteja,
Rafael,
eu grito
pra que me escute!
Bendito foi o dia
em que ela
lhe deu um chute.
Pena que leve,
quase sem peso.
Merecia
uma surra
antes do desprezo...


Para um cafajeste
com nome de anjo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Não era pra contar



Família tem segredo

---------------segredo tem história

-história tem enredo

----------------enredo, trajetória

trajetória tem começo

------------------começo tem rumo

------rumo tem tropeço

------------------tropeço, aprumo

-----------------------------resumo

segredo tem Família



Releia de trás pra frente,
palavra por palavra.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ponto pro vigário



Que o escapulário
te guarde
primeiro de ti.
Do vício,
do ódio,
do ócio da tarde,
do peso de te julgares acima,
dos pesares por quem sorri.
Nem imaginas:
os temíveis males
se hospedam nos vales
da alma.
Que o escapulário
te guarde
primeiro de ti.
Depois dos perigos
não íntimos
e ínfimos
que há por aí.


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Recado



sei que está aí
às escondidas
a indagar de si
o que restou
de nossas vidas?

- café requentado -

escrevo pra lhe pedir
que reformule
pra sugerir
onde colocou
aquele bule?

- café passado -


Para minha amiga Lakshmi.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Quando muito



Se Maria e Carlos da Maia não se descobrissem irmãos,
se a carta a Romeu lhe chegasse às mãos,
se Orfeu não mirasse Eurídice,
se eu cometesse menos tolices,
o amor seria possível?

Não. Até na arte se vê do amor apenas parte
- indício, mais real que fictício,
de que a plenitude é inconcebível.
O que se busca, amiúde,
é ignorar esta certeza implacável
e manter inabalável o sonho
de viver, quando muito,
um enfadonho romance de novelas
- a chorar, entre elas,
durante o intervalo maldito,
pela obra de Eça,
pela peça de Shakespeare,
pela pureza de um mito...


terça-feira, 10 de novembro de 2009

B.O.



Estou de poucas palavras:
tramela.
A-penas
algumas vogais
escapam das celas.
Abertas,
elas gritam ao mundo
o que me cala:
queria um coração
à prova de balas.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Comprimida



Sempre
que a noite
vem sem o sono,
ela venda
os olhos
com tarja
preta.
De si,
pra que legenda?
Se for
pra se ouvir,
que não compreenda.
O controle remoto
à gaveta.


Para Luciane Slomka,
em um diálogo com seu poema Tarja preta,
publicado hoje no espaço
Crer para ver.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Conversa a-fiada



Céus! Como estou farta
dessa sua prosa parca
que só me traz farpa...


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

In memoriam



Lágrimas
a cada partida.
E choramos
não pela morte,
mas pela brevidade
da vida.
Os que vão
deixam rastros
que não passarão
àqueles a que deixarei
os meus.
A saudade
dura pouco
além do adeus...
Levarei comigo,
é bem possível,
eu sei,
os últimos vestígios
daqueles por quem chorei.


Crônica de 2006 que virou poema.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Contando estrelas



Todas as noites,
no aconchego dos seus braços,
eu conto estrelas
em um céu imaginário.

Quantas estrelas
cabem em seu abraço...
Chego a perdê-las
nos seus pelos
que embaraço.

Como podem
tantas estrelas
em tão diminuto espaço?

Em seus braços,
o céu que imagino
é sem compasso.
Não tem fim,
nem começo.

E quando as estrelas
enfim se apagam,
eu adormeço.


Classificado no Concurso Literário Internacional Mulheres Escritoras.
Integra a obra Mulheres em Prosa e Verso,
publicada pela editora Hoje Edições Ltda.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobras



Eu tenho ficado
com o cansaço,
o sumo
que sobrou no bagaço,
o resumo
riscado,
o trocado,
o farelo.
Por que
se mereço
tanto?
Quer sol quem dá amarelo.
Quer som quem oferece o canto.
Quer colo quem divide a cama.
Quer amor quem ama.


Classificado no Concurso Literário Internacional Mulheres Escritoras.
Integra a obra Mulheres em prosa e verso,
publicada pela editora Hoje Edições Ltda.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

M' água



Ele falou sem pensar. E a magoou.
Ela pensou sem querer. E se trancou.
A moça
tranca mágoas
no fundo de si.

Eles quis se desculpar. E a abraçou.
Ela desculpou. E não sorriu.
A moça magoada
nem mesmo abraçada
sorri.

Moça
tem coração-poço.
Moço
tem coração-poça.
O poço é profundo,
a poça é rasa.
A moça represa,
o moço vaza.
Ele seca,
ela alaga.


Escrito em 2008.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Flor da pele



Meu amor
por você
me fragiliza:
sou rosa
de pétalas
finas e lisas
que vertem
orvalho
ao simples
farfalho
das brisas...


Presente de aniversário.

domingo, 18 de outubro de 2009

Notas da confeiteira


Caros leitores,

Sobras e Contando estrelas,
poemas que publicarei em breve aqui na confeitaria,
foram classificados no Concurso Literário Internacional Mulheres Escritoras
e já integram a obra Mulheres Escritoras em prosa e verso.

Pelo ralo
foi classificado no Concurso Literário Brasil Poeta
e será publicado, ainda em 2009, na respectiva antologia.

Mero mortal,
poema que escrevi em homenagem aos médicos,
cuja data se comemora hoje,
foi utilizado pela Unimed de Juiz de Fora/MG
no hot site do evento promovido anteontem na cidade:
Festa dos Médicos.

Convido vocês a conhecerem ou relerem
Pelo ralo e Mero mortal.
Aguardarei os comentários!

Um abração a todos,
em especial àqueles que, com zelo, exercem a Medicina.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Vossa Excelência



O pronome
deveria ser seu!
É você quem,
desde cedo,
lida tão bem
com a folia e com o medo
de cada criança
na sala de aula.
E que não se cansa
de repetir,
ano após ano,
o mesmo ensino,
como se inédito.
É seu este notável mérito,
Vossa Excelência:
o de preparar meninos,
sem lhes furtar a inocência...


 
Homenagem aos professores.
Um beijo para tia Valéria!


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Segunda pele



Eu era menina
e o sol, mais ameno.
Ardia de piscina
e me curava no sereno.
Não havia protetor
ou o costume, pelo menos.
E o que então era indolor,
hoje noto ser veneno.

O homem tem tanto da cobra:
o chocalho, a presa, o bote.
Só não cobrou da natureza
trocar de pele como dote.


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cabana bacana



Como era bacana
brincar de cabana!
No meio da sala,
mais de três cobertores
a cobrirem cadeiras
dispostas em roda.
E a gente
lá embaixo
inventando moda...


Escrito há mais de 15 anos,
para minha irmã e primos.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Língua, colo de útero



Eu aposto
que não sabe
o que é aposto

e lamento
que tenha
esse desgosto,

pois a língua
é assento
e encosto.



domingo, 4 de outubro de 2009

Houaiss



à sua falta,
conversei com o dicionário

e que fato extraordinário:
ele só me fala
do que quero saber

falhou apenas
por um senão:
ao não me contar de você


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Repúdio



Vangloriam-se
da façanha
de serem autoridades.

Ah, se neles
um pouco do Aranha:
com grandes poderes,
grandes responsabilidades.