
as ruas estão cheias
as vitrines, decoradas
as calçadas, derrapantes
as noites, mal dormidas
dezembro se repete
exatamente como antes:
todo ano, a mesma angústia
entre luzes coloridas
de onde, esse nó na garganta:
é dezembro que o agiganta
ou ele vem das despedidas?
de onde, esse aperto no peito:
ele viria de qualquer jeito
como selo de horas perdidas?
e as pessoas se cumprimentam
como se fossem todas queridas...
para que abraços forjados
quando as testas estão franzidas?
dezembro se repete
exatamente em pormenores:
a ceia pelos lares
a tristeza aos arredores
entre estrelas e guirlandas
e velas e altares
e piscas nas varandas
muitos se afligem em sigilo:
como de si fazer festa
se o que se quer é asilo?
Ilustração de Fabrícia Batista.